terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

sobre as vozes II

eu não suporto essa moda jovem de fingir que os amigos morreram. ainda menos quando a cidade está imersa numa crise social, numa quase guerra civil. ter de ouvir suas vozes fingindo a emoção de saber que amigos estão morrendo, ou até mesmo simulando os últimos minutos da própria vida em meus ouvidos, que já receberam o eco por semanas a fio dos gritos de dor da minha mãe presas nas ferragens, é mais do que uma afronta moral: é uma perversidade sem perdão. o cúmulo da insensibilidade, do desrespeito. provoca risos em sua dimensão espacial? na minha provoca um desespero enorme, a sensação de impotência. o problema é maior do que apenas a mentira, é saber que sim, poderia estar acontecendo - a vida tem dessa qualidade, de repetir factoides, sejam eles quais forem.

é essa postura infantil dos usuários de drogas que impede a legalização e impedem minha paz. eles simplesmente não sabem lidar com a multidimensionalidade, acham que liberdade não envolve consciência pessoal, responsabilidade pelas próprias atitudes. é o fato de não precisar abrir a boca para causar dano que os liberta a essas piadas bolinosas e que faz a polícia, a política e a sociedade, em geral, considerar a todos meros deliquentes morais.

memória de vida passada em signisciência